Raças

Vortigans

Os antigos contos narram que, após o sacrifício de Éos, o Primordial, Ícaro se encontrou sozinha sobre a vasta e desolada ilha flutuante. Suas lágrimas se uniram às de seu criador, até que uma brisa inesperada e suave envolvesse o lugar. Ao erguer os olhos, Ícaro contemplou pequenas criaturas etéreas, movendo-se em perfeita harmonia com o vento, como se fossem parte dele. Naquele momento, ela compreendeu: as barbulas das penas de Éos, arrancadas em sua criação, haviam ganhado vida. Essas pequenas e leves criaturas eram o último presente de Éos para Ícaro, um sussurro eterno dizendo que ela nunca estaria realmente só.

Quase tudo sobre os Vortigans permanece envolto em mistério, como o próprio Ninho, o lar sagrado construído por Éos entre as montanhas flutuantes, um local inalcançável por qualquer ser que não seja um deles. A sociedade dos Vortigans é fechada, mantendo-se distante e independente, dedicando-se apenas à sua própria preservação e ao legado de seu Primordial. Como Mestres do Ar, os Vortigans são notavelmente rápidos e furtivos; para os que cruzam seus caminhos, é difícil dizer se aquela figura que pareceu atravessar o céu era de fato um deles ou apenas uma sombra soprada pelo vento.

As raras descrições dos Vortigans que temos vêm dos poucos que tiveram a sorte de vê-los. São descritos como seres de asas vastas e exuberantes, que podem se abrir como um manto protetor ao redor de seus corpos, em uma infinidade de plumagens que refletem as estações com as quais cada um mais se conecta.

Sylfaens

Durante eras incontáveis, Morfa, a primordial ancestral das florestas eternas, contemplava em silêncio os atos de destruição e maldade que dilaceravam seu reino verdejante. Seu coração pulsava em harmonia com cada folha, riacho e raiz, mas a dor infligida à natureza reverberava em seu ser como uma ferida profunda e viva.

Certa vez, ao sentir que as forças naturais estavam à beira do colapso, Morfa decidiu agir. Em um ato de pura criação, extraiu a essência mais pura de seu reino: a vitalidade das plantas, o vigor dos animais, e a serenidade dos rios. Com a energia espiritual que fluía em sincronia com a matéria, e assim moldou uma nova forma de vida nascida do reflexo da natureza. Surgiram então os Sylfaen, guardiões fortes e dotados de belezas exóticas, concebidos como a personificação do equilíbrio entre mundo espiritual e físico. Os Sylfaen eram dotados de habilidades extraordinárias. Suas mãos, capazes de tocar a terra ou uma árvore moribunda, emanavam uma energia curativa que cicatrizava até as mais profundas feridas deixadas pela devastação. Eram rápidos como o vento e astutos como a sombra dançante nas copas das árvores, tornando-se inatingíveis por aqueles que ousassem enfrentá-los. Podia-se considerar que cada Sylfaen era um fragmento da vontade de Morfa, um canal vivo da força da natureza e do espírito ancestral que ela carregava.

Reza a lenda que esses guerreiros não apenas protegiam, mas também julgavam tudo que ia de encontro as suas crenças. Aqueles que abusavam da audácia para ferir o reino de Morfa consequentemente enfrentavam a punição mais severa: um instante eterno de julgamento, onde, ao encarar os olhos brilhantes e profundos das criaturas, suas vidas inteiras eram refletidas. Nesse momento, eles seriam capazes de entender o sofrimento que causado à terra e às criaturas vivas, como se sua essência fosse drenada pela natureza que traíram. Dizem que, quando o mundo estava em equilíbrio, os Sylfaen dançavam ao luar, celebrando a conexão entre todas as coisas vivas. Mas quando o mal ameaçava prevalecer, eles tornavam-se implacáveis, um lembrete de que a natureza não esquece nem perdoa. Hoje, poucos ousam pisar nas florestas protegidas, e menos ainda sobrevivem para contar a história. Mas os sussurros do vento e o murmúrio dos rios contam sua existência. Eles são espíritos da natureza encarnados, um legado eterno de Morfa e sua promessa de que a vida sempre encontrará uma maneira de resistir.

Ondiades

Nem toda ira vem do fogo. O mundo sucumbirá às águas gélidas e implacáveis, porque a água é mais do que um elemento: ela é um paradoxo. Guardiãs de segredos insondáveis, sua tranquilidade pode mascarar uma força destrutiva. Será que você, mortal, consegue sobreviver às suas marés? Assim começam as antigas histórias sobre as Ondiades. Elas não são apenas criaturas do mar, mas manifestações vivas desse paradoxo.

Belas como um sonho e perigosas como uma tormenta, elas habitam as profundezas onde o tempo e a luz se perdem. Cada uma carrega em si o poder e o mistério da água, sendo ao mesmo tempo um refúgio e uma sentença para aqueles que cruzam seu caminho. Sedutoras e implacáveis, as Ondiades têm uma natureza fluida que desafia definições. Algumas cantam para atrair almas à perdição; outras se erguem como guerreiras para proteger suas irmãs e seus domínios.

Quando transformadas pela primeira vez, não são elas que escolhem a forma que suas caudas terão, mas o próprio mar. O oceano lê suas almas, navegando por suas convicções mais profundas, e decide se elas carregarão a graça fluida de uma cauda de peixe ou o poder sombrio dos tentáculos de um polvo. Essa escolha inicial é um reflexo do que elas são em essência, moldando-as como encantadoras guardiãs de seu mundo.

Contudo, há uma verdade inescapável: todas são regidas pelo equilíbrio instável entre a graça e a destruição, a serenidade e a fúria. Ningyo, a primeira e mais antiga das Ondiades, é a origem dessa linhagem. Após perder seu primordial, tornou-se um símbolo de como a dor pode moldar e fortalecer.

As Ondiades, no entanto, não são apenas seguidoras de Ningyo; elas têm suas próprias vozes e histórias, todas entrelaçadas pela essência paradoxal que as define. Como a água que as criou, elas são tão infinitamente diversas quanto os oceanos — ora calmas, ora devastadoras, mas sempre irresistíveis.

Wyvarns

No início tudo nasceu das chamas, e no fim, tudo será consumido por elas. É nisso que os Wyvarns acreditam e é por isso que vivem, cada passo na terra abrasada, cada pulsar caloroso de seus corações e cada tinido do choque das lâminas ressoa em sua história. Pois de todos os Eternos, eles foram os únicos que surgiram eras depois de seu primordial e seus arautos, os únicos que conheceram na pele o terror do gelo antes de abraçar o calor das chamas.

A história é bem famosa, não se enganem, não há uma criatura no Oásis que não conheça o conto do rei que sucumbiu ao próprio desespero. Não conhece? Permita-me te contar...

Há muito tempo o reino de Varânia foi atingido por desequilíbrios ambientais severos. Diziam que era a fúria da natureza punindo os governantes gananciosos, outros que era o resultado da recente ascensão das práticas arcanas e que os deuses estavam punindo os homens por infectarem algo tão puro com seu desejo por poder. A fonte do tormento não era importante, a questão é que ele estava acontecendo e precisava ser contornado, caso contrário todo o reino pereceria.

Varânia, que uma hora fora um populoso reino tropical cheio de vida e cor, agora estava se tornando aos poucos um grande monumento de gelo. Por meses uma tempestade de neve ininterrupta os assombrou, consumindo suas colheitas e ceifando seus moradores, que acostumados com o calor, não possuíam resistência alguma ao frio. Aos poucos o reino foi sendo minado e o caos se espalhava das periferias ao centro das muralhas, até finalmente chegar em seu rei. Logo na sua vez de governar o reino enfrentava a pior crise já registrada e o desespero já estava a ponto de lhe dominar, mas pontualmente, seu conselheiro Salazar disse que existia um lugar em que o gelo não ousaria se aproximar, e como num passe de mágica o rei se encheu de esperança e prontificou marcha até este bastião da esperança.

Em pouco tempo os sobreviventes estavam agasalhados e com carruagens com todo o resto de provisões que restara no reino inteiro e logo começaram a marchar. Foi uma viagem longa e difícil, mais da metade do comboio havia perecido pelo frio, mas enfim eles chegaram. O rei ficou encantado com o que viu, era uma grande planície de terra vermelha, e como Salazar havia prometido, o local emanava uma aura de calor e o gelo não conseguia se acumular. Rapidamente construíram abrigos e se estabeleceram no lugar, mas algo estava estranho. A parte mais quente estava sendo isolada por Salazar e seus consortes, quando questionou seu conselheiro, ele não parecia o mesmo, seus olhos estavam levemente alaranjados e seus dedos pareciam longas garras afiadas. O rei ficou apavorado quando Salazar gritou e todas as cabanas se incendiaram, seus ajudantes começaram a formar um círculo e realizar um cântico arcano. Então runas vermelhas apareceram sob o chão e tremores violentos se espalharam pela área, a terra começou a abrir revelando uma enorme cratera repleta de magma fervente e cintilante. Tudo estava caótico até que em meio àquela fumaça avermelhada e calor insuportável, o silêncio se instaurou. Não sabemos o que as pessoas ouviram, mas independente do que foi, permitiu que eles construíssem um novo reino, onde os Wyvarns surgiram e onde estão até hoje. Bebendo de seu calor e poder e mesclando a si mesmos com criaturas há muito engolidas pelo tempo.

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